álbum

Nara (1964)

Manhã de Liberdade

1966

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. A Banda (Chico Buarque)

    Estava à toa na vida, o meu amor me chamou
    Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
    A minha gente sofrida despediu-se da dor
    Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
    O homem sério que contava dinheiro parou
    O faroleiro que contava vantagem parou
    A namorada que contava as estrelas parou
    Para ver, ouvir e dar passagem
    A moça triste que vivia calada sorriu
    A rosa triste que vivia fechada se abriu
    E a meninada toda se assanhou
    Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

    Estribilho
    O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
    Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
    A moça feia debruçou na janela
    Pensando que a banda tocava pra ela
    A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
    A lua cheia que vivia escondida surgiu
    Minha cidade toda se enfeitou
    Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
    Mas para meu desencanto o que era doce acabou
    Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou
    E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor
    Depois da banda passar cantando coisas de amor

  2. Ana vai embora (Franklin Dario)

    Ana vai embora

    Leva a mala cheia de sentar sentando em cima
    E a noite escorrega nos seus olhos de menina
    Ana quer chorar

    Ana vai embora
    Pro sul

    A lua se esconde
    Dentro de um coqueiro e triste
    Noite que é pé teimoso
    Quebra as ruas do recife
    Que ana vai deixar

    Ana vai embora
    Pro sul

    Moreninha dos olhos de cobertor
    Has de ser consolo de um pedreiro de valor

    Norte te deu fome
    Comida do sul te chamou
    Norte dá saudade
    Depois que já se almoçou.

    Ana vai embora
    Pro sul

    A mãe Benedita deu-lhe beijos e um aviso
    Filha escolha bem seu homem mas não perca seu juízo
    Antes de casar

    Ana vai embora
    Pro sul

  3. Funeral de um lavrador (João Cabral de Melo Neto / Chico Buarque)

    Esta cova em que estás com palmos medida
    É a conta menor que tiraste em vida
    É de bom tamanho nem largo nem fundo
    É a parte que te cabe deste latifúndio

    Não é cova grande, é cova medida
    É a terra que querias ver dividida
    É uma cova grande pra teu pouco defunto
    Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

    É uma cova grande pra teu defunto parco
    Porém mais que no mundo te sentirás largo
    É uma cova grande pra tua carne pouca
    Mas a terra dada, não se abre a boca
    Mas a terra dada, não se abre a boca.

  4. Dois e dois: quatro (Luiz Guedes / Ferreira Gullar / Thomas Roth)

    Como dois e dois são quatro
    Sei que a vida vale a pena
    Embora o pão seja caro
    E a liberdade pequena

    Sei que dois e dois são quatro
    Sei que a vida vale a pena

    Como dois e dois são quatro
    Sei que a vida vale a pena
    Embora o pão seja caro
    E a liberdade pequena

    Como teus olhos são claros
    E a tua pele morena
    Como é azul o oceano
    E a lagoa serena
    Como um tempo de alegria
    Por trás do terror me acena
    E a noite carrega o dia
    No seu colo de açucena

    Sei que dois e dois são quatro
    Sei que a vida vale a pena
    Mesmo que o pão seja caro
    E a liberdade pequena

  5. Morena dos olhos d’agua (Chico Buarque)

    Morena, dos olhos d'água
    Tira os seus olhos do mar
    Vem ver que a vida ainda vale
    O sorriso que eu tenho
    Pra lhe dar

    Descansa em meu pobre peito
    Que jamais enfrenta o mar
    Mas que tenha braço estreito morena
    Com jeito de lhe agradar
    Vem ouvir lindas histórias
    Que por seu amor sonhei
    Vem saber quantas vitórias morena
    Por mares que só eu sei
    Morena, dos olhos d'água
    Tira os seus olhos do mar
    Vem ver que a vida ainda vale
    O sorriso que eu tenho
    Pra lhe dar

    O seu homem foi-se embora
    Prometendo voltar já
    Mas as ondas não tem hora morena
    De partir ou de voltar
    Passa a vela e vai-se embora
    Passa o tempo e vai também
    Mas meu canto ainda lhe implora morena
    Agora morena, vem

  6. Favela (Padeirinho / Jorginho)

    Numa vasta extensão
    Onde não há plantação
    Nem niguém morando lá
    Cada um pobre que passa por ali
    Só pensa em construir seu lar

    E quando o primeiro começa
    Os outros depressa procuram marcar
    Seu pedacinho de terra pra morar

    E assim que a região
    Sofre modificação
    Fica sendo chama de “a nova aquarela”

    É aí que o lugar
    Então passa a se chamar
    Favela

  7. Manhã de liberdade (Nelson Lins de Barro / Marcon Antonio)

    Vê como a noite desceu
    Como tudo morreu
    Sem ter pena da gente

    Vê quanto olhar se fechou
    Quanta voz se apagou
    Sem dizer o que sente

    Não vê quanta flor
    quanta luz vai nascendo
    Há tanto amor que dar
    Tanto pra ganhar
    Tanto o que fazer

    Sei, ninguém deve chorar
    Ninguém deve sonhar
    Tanta coisa perdida
    Sei que esta vida se faz
    Só agente é capaz
    De mudar nossa vida

    Não sei quanto tempo é preciso esperar
    Paz, igualdade, amor, liberdade, vida
    Que vai nascer

    E o mundo inteiro cantando, cantando
    Liberdade há nascer manhã

  8. Menina de Hiroshima (Luis Carlos Sá / Francisco de Assis)

    Quem quer ouvir a história
    Da menina de Hiroshima?
    Quem quer ouvir a história
    Da menina maravilha?

    A menina que ficou
    Com os olhos cor sem cor
    Com olhar sem olhar
    Com falar sem falar
    Com amor sem amor

    No seu corpo de menina
    Mapas de um lugar qualquer
    A menina de Hiroshima
    Não pode mais ser mulher

    A menina que ficou
    Com os olhos cor sem cor
    Com olhar sem olhar
    Com falar sem falar
    Com amor sem amor

    Mas a menina de Hiroshima
    Está bela, está viva
    Como rosa radiante
    Como rosa radiotiva

  9. Ladainha (Gilberto Gil)

    Festa de morto é ladainha
    Medo de vivo é solidão
    Luto por amor e morro
    De facas no coração

    Em campos sem travesseiro
    Estou cercado de inimigo
    Cada qual mais preparado
    Intriguento e arruaceiro

    Chove chuva e aguaceiro
    Chove chuva e aguaceiro

    Só sinto frio na alma
    Estou vazio de sentimento
    Não sinto água no corpo
    Nem amor, nem ferimento

    Chove chuva e aguaceiro
    Chove chuva e aguaceiro

    O vivo morreu cercado
    De muita luta e alegria
    Seu sorriso agora é nuvem
    Sua festa, ladainha

    Seu amor, cama vazia
    Numa varanda do céu
    Seu amor, cama vazia
    Numa varanda do céu

  10. Canção do bicho (Jenny Marcondes / Denoy Oliveira / Ferreira Gullar)

    Se corres bicho te pega amor
    Se ficas ele te come
    Ai que bicho será esse amor
    Quem tem braço e pé de homem?

    Com a mão direita ele rouba
    E com a esquerda ele entrega
    Janeiro te dá trabalho amor
    Dezembro te desemprega

    De dia ele grita avante amor
    De noite ele diz não vá
    Será esse bicho um homem amor
    Ou muitos homens será?

  11. Canção da Primavera (Carlos Elias))

    Me acordo e abro a janela
    Sorrio e me sinto feliz
    A primavera chegou
    Trazendo quem eu sempre quis

    Há nos jardins tantas flores
    Na paisagem mais cores
    Paira no ar um aroma de felcidade

    Até no canto das aves
    Sinto que há mais poesia
    Parece que elas entendem
    Toda esta minha alegria

    As flores começam a surgir
    Com a nova estação que chegou
    E meu coração já sorri
    Porque você voltou

  12. Faz escuro mas eu canto (Monsueto Menezes / Thiago de Melo)

    Faz escuro mais eu canto
    Porque amanhã vai chegar
    Vem ver comigo companheiro
    Vai ser lindo
    A cor do mundo, o lugar

    Vale a pena não dormir para esperar
    Porque amanhã vai chegar

    Já é madrugada vem o sol
    Quero alegria
    Que é para esquecer o que eu sofria

    Quem sofre fica acordado
    Defendendo o coração
    Vem comigo multidão
    Trabalhar pela alegria
    Que amanhã é outro dia

ficha técnica

Gravadora: Philips

Arranjos e direção musical: Jenny Marcondes